@CaioFRF

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Isso é um absurdo?

Um dia depois de ter decidido a voltar com meu blog me aconteceu algo que devo registrar aqui. Mas primeiramente quero dizer que não acho mérito nenhum ter feito o que eu fiz, não quero me aparecer como um bom samaritano defensor dos pobres. A verdade é que eu sou um grande filho da puta, porem com consciência de dever. Eu ando buscando um distanciamento de certas coisas para não me tornar um imbecil, como a maioria dessa massa burra. O ato de ajudar é também um ato de egoísmo (não que eu ajude alguém pensando que algum Deus ira me mandar pro inferno ou pro paraíso cheio de mulheres com as tetas de fora), no fundo eu acabei buscando algo ali, procurava um fonte de inspiração, procurava perceber a essência do ser humano ali presente, queria aprender com ele, queria lhe que ele me olhasse nos olhos e que os olhos dele brilhassem. Eu estou buscando a abnegação de todo esse mundo materialista, eu quero o que o dinheiro não pode comprar, eu quero ser um produto do que eu sou e não da mídia, então naquele momento pouco me interessou se chegaria tarde na aula, se eu seria assaltado, não pensei em consequências, tive não pré conceitos, simplesmente estava ali presente, vivendo o que a vida tinha pra me oferecer e naquele momento ela me oferecia um senhor que não da pra sabe a idade ao certo, porem aparentava no mínimo 55 anos, tinha a barba rala, cabelos leve mente pretos e grisalhos, pele morena, marcada de sol, vestindo uma camisa branca, estilo embalo de sábado a noite, calça jeans capri, e um sapato preto semelhante a um sapato de sapateado, porem mais redondo. Carregava uma sacola branca com algum desenho verde, e falava com uma voz indecifrável e quase inaudível, era possível dizer que ele tinha problemas psicológicos, pois não agia dentro de um padrão.

Eu estava descendo a consolação para ir pra aula do Fernando Leal, andava perdido em pensamentos e numa esquina o tal senhor veio falar comigo, a dicção dele era péssima, o volume da voz era baixo e mal conseguia entender o que ele dizia. Algumas pessoas passaram e mal deram atenção, uma senhora parou e tentou me ajudar a entende-lo, e finalmente entendi que ele não sabia como atravessar para o outro lado da avenida, então indiquei-lhe o local de atravessar. Foi então que percebi que ele já sabia daquilo, mas tinha medo de atravessar ali, quando a senhora que parou para ajudar também percebeu fugazmente me olhou com um olhar sem graça e eu entendi o que ela queria dizer, ela não podia dispor do tempo dela para ajudar aquele senhor, não me surpreendi, fiz um apenas um gesto de que o ajudaria e que ela poderia continuar o seu caminho.

No meu intimo eu não queria ajuda-lo, por mim eu teria largado ele ali e teria ido pra minha aula, pois já estava em cima da hora e afinal outra pessoa poderia ajuda-lo, por que eu? Notei minha mediocridade a tempo, simplesmente eu não poderia fazer uma coisas dessas, não por nenhum principio politicamente correto, não sei bem explicar o porquê de eu ter resolvido ajuda-lo, eu simplesmente fiz o que tinha de ser feito!


Enquanto a gente tava na calçada do meio, o senhor queria me dar um blusa que tava amarrada no pescoço dele, evidentemente não aceitei, porem nesse momento ele deu uma olhada no meu blazer. Atravessada a avenida pretendia retomar meu rumo, porem a criatura que eu acompanhava me perguntou onde ficava a igreja da consolação ( levei tempo pra entender, parecia que ele falava coração, pensei que fosse uma igreja evangélica, o que me fez tomar o caminho oposto, sorte que a tempo eu consegui entende-lo) já que isso era no sentido que eu ia resolvi acompanha-lo, principalmente porque ele carregava uma sacola pesada, e eu tinha me oferecido para leva-la, o coitadinho era tão magrinho.

Fomos caminhado juntos, eu não sabia muito o que conversar com o senhor, eu entendia pouco o que ele falava, não consigo ser como essas pessoas que se acham superiores e bondosas e começam a falar de modo diferente com pessoas assim, não pra mim ele era um igual, e acabei não dizendo nada. Compartilhamos um momento de silencio juntos e eis que a criatura começou a falar, no inicio dizia algo sobre a chuva e o chão estar molhado, e eu lhe falei que adorava a chuva e que o ar estava ótimo e resolvi perguntar da onde ele vinha. Então a criatura desatou a falar. Foi ai que comecei a entender tudo ou não entendi nada, o mais provável é que tenha entendido parcialmente.

As palavras eram confusas eu não conseguia entende-las, era resmungos repetitivos, os gestos eram de um originalidade que seria impossível decifrar, e o olhar era fugitivo, ele não olhava na minha face para falar, principalmente pelo fato de estarmos andando. O que pude entender é que ele estava indignado com o irmão dele que o abandonara, que tiveram alguma confusão por causa de algum comodo da casa deles e ele foi colocado pra fora de casa...ele é morador de rua, pois falou algo sobre um albergue, eu acredito que há muito tempo que ele vaga pelas ruas...e na hora que eu encontrei-o ele tinha acabado de tomar banho na casa de um padeiro, pelo que entendi ele tava morto de fome foi até a padaria pedir 2 pãezinhos o padeiro comovido lhe deu banho, lhe fez a barba e lhe deu roupas... ele dizia " Isso é coisa de um ser humano fazer? Isso é coisa de um irmão? Eu não reconheço meu irmão! Isso não é certo...". Nesse meio tempo estávamos bem próximos da igreja já. Minha mão doía, foi nesse momento que percebi o quão pesado era aquela sacola, até então achava ameno seu peso. Troquei a sacola de mão.

A conversa mudou de rumo, ele falou alguma coisa sobre terem roubado o dinheiro dele, então perguntei desde quando ele morava em São Paulo, ele disse 70, preguntei a idade dele, ele não soube me responder, perguntei da onde ele tinha vindo, da Bahia, e ai ele começou a contar da terra natal dele, de como ela gostava do sitio que tinha galinhas, porco, vaca, boi, ovelha, bode e que o irmão dele tinha vendido tudo e que ele não tinha visto a cor do dinheiro, disse mais coisas confusas, então resolvi perguntar-lhe se ele tinha mulher e esse foi o melhor momento, foi um negocio de uma sinceridade, de um espirito realmente livre: " Que mulher!! Eu não gosto de mulher, mulher só quer saber do cara quando ele ta bem, mulher só quer dinheiro, eu gostava de umas raparigas, mas nunca casei, nunca quis saber de mulher!". Se você for um imbecil deve estar pensando que esse senhor é gay. Não ele não é! Simplesmente ele estava cansado, tão cansado que resolveu que não precisava de mulher pra viver! Isso é um ato de amor próprio. É de uma abnegação que eu não seria capaz.

No fim dessa conversa chegamos a igreja, ele apertou minha mão. Eu me lembrei que no caminho ele tinha comentado algo sobre frio, me lembrei de ele olhar meu blazer, dai eu realizei uma coisa que sempre quis. tirei o blazer e dei-o para ele! A criatura ficou surpresa, e em retribuição insistiu que eu ficasse com o casaco que ele tinha amarrado no pescoço, eu recusei, mas talvez não deveria ter recusado, mas enfim ele apertou minha mão novamente e nos despedimos. Fui para minha aula, mas no caminho eu senti uma vontade de chorar tão grande, eu segurei o choro, não sei porque chorava.

Vamos ao fatos, dar o blazer foi um gesto de abnegação, porem o blazer era barato e estava meio surrado, perguntei a mim se por acaso fosse um blazer mais caro e mais bem conservado se eu teria feito a mesma coisa, penso que ainda não seria capaz. Ajudar-lo a achar a igreja e atravessar a rua também não foi grande coisa, ele poderia ter feito isso sem mim. Talvez ouvi-lo tenha sido a melhor coisa que fiz por ele, mas ao falar ele também fez por mim. Eu alimentei minha alma, eu me senti bem, e coloquei a prova uma serie de mesquinhices. Então quem fez o bem pra quem? Foi uma troca, foi um algo mutuo.

Quero deixar bem claro que deixei de escrever algumas coisas por considerar que não devo compartilha-las. Estou escrevendo de madruga então eventuais erros são culpa do meu sono. Estou ainda absorvendo isso, me sinto mais livre. Também podem haver pedaços falhos, pois a minha memória não é boa para os detalhes...cheguei na aula 30 minutos atrasado.

Eu fico aqui imaginando que legal seria se esse senhor estivesse mentindo pra mim, que legal seria se quando eu mal tivesse virado as costas ele falasse para si " Sou ator pra caralho" e eu tolinho, achando que ele era um pobre coitado descubro que estava diante de um Marlon Brando perdido por ai! Seria sensacional, melhor que uma aula de interpretação!

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